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12.8.11

A RAPOSA E O MARUJO (Série Fábulas Selecionadas)

Pequeno conto que escrevi para a revista Mundo Canibal 01 (Mythos Editora/dezembro 2008) e ricamente ilustrado pelo meu amigo pessoal Weberson Santiago (o ligeirinho dos pincéis).





"Vinha alegremente um marujo andando pelo porto molestando o próprio sexo, quando se deparou com uma raposa-macho do sexo masculino de semblante jovial, porém cansado.
O animal matreiro logo soltou:
_ Nossa! Que marujo forte! Deve, com certeza, ser o orgulho da embarcação! Quem me dera ser assim tão másculo...
O marujo desconfiou dos elogios, mas mesmo assim se achou merecedor te tal lisonja e se saiu com essa:
_ Nem tanto, mas tenho lá os meus valores. Não sei o que seria da minha tripulação se eu não estivesse lá. Aliás, não sei o que seria do mar! _ disse o marujo que tinha sonhos de grandeza e arrogância.

A raposa, então, veio com mais bajulações e convidou o marujo para beberem por sua conta. Mas, como não tinha dinheiro, disse cabisbaixa:
_ Seria uma honra pagar uma bebida para o futuro capitão, orgulho dos mares que é, por certo! Mas, pobre de mim, me encontro sem recursos justamente hoje! Quando terei tamanha oportunidade novamente de tão nobre companhia?
O marujo também não tinha nenhum troco, no entanto, tinha a tarde livre e achou a raposa deveras ajeitada.
_ Pena que o distinto não possa me pagar uma bebida, mas existem outros agrados...

A raposa fez-se de desentendida e indagou o que poderia ser digno daquele experiente homem do mar.

O marujo ficou a fazer gracejos e a exibir os músculos rijos, contraindo libidinosamente o abdômen com a intenção de incitar a raposa a tomar a iniciativa de um convite mais ousado. Mas como o animal apenas o bajulava sem nenhuma ação direta, ele resolveu lançar essa:
_ Como pode uma raposa caminhar tão graciosamente pelas quatro patas? Poderia por obséquio ficar nessa posição enquanto eu observo o amigo ir até aquele ponto distante do cais?

A raposa ficou enrubescida e disse que não teria coragem de dar as costas para o marujo com receio de que, quando olhasse para trás, ele não estivesse mais ali, o que deixaria-a incrivelmente desapontada:
_ Eu não sei se posso suportar essa idéia... _ soltou a raposa, com os olhos já mareados pelas lágrimas que insistiam em escorrer pela face.
O marujo disse que aquilo era tolice e que, a fim de ganhar a confiança da raposa, colocaria-se de quatro. E, não satisfeito, ainda emendou, quase como um gracejo:
_ Vou eu primeiro e depois... Depois é você, hein... _ disse, enquanto colocava-se na posição passiva.

Neste ínterim, eis que surgiu um urso enorme, com uma pica que não tinha mais tamanho e traçou o marujo sem dó.

A raposa então, olhou confiante para o urso e disse:
_ Não falei para você que aqui no porto seria mais fácil pegar um marujo do que na floresta?

MORAL DA HISTÓRIA:
Nem sempre se deixe levar pelas bajulações alheias. Aliás, se muito se elogia, se muito se adoça, é porque por trás, alguma coisa está por vir."

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